terça-feira, 11 de março de 2008

Plantas transgénicas têm menos genes alterados

Os processos utilizados na agricultura intensiva para melhoramento agrícola provocam mais alterações nas plantas do que a engenharia genética. Ainda assim, se o controlo do produto final é rigoroso para os transgénicos, não o é para as restantes plantas.

As conclusões deste estudo do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) e do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa (ITQBUNL) levam os investigadores dos dois institutos a defender uma "avaliação caso a caso do produto final e não a tecnologia utilizada para se chegar a esse produto". "Só dessa forma se poderá garantir uma verdadeira segurança alimentar", referiu ao JN Rita Baptista.

A investigadora sublinhou que o resultado do estudo "não indica se determinadas plantas são mais perigosas e outras menos". A questão passa muito mais pela quase inexistência de controlo de umas e o controlo de outras. Isto é, "no mercado existem mais de 1500 espécies que chegam ao prato de toda a gente que não são avaliadas".

Planta de arroz

Os cientistas orientaram o seu estudo na planta de arroz. Compararam os resultados entre as plantas geneticamente modificadas, as transgénicas, e as plantas cujas sementes foram irradiadas com raios gama (mutagénese), uma técnica utilizada na agricultura convencional desde o início do século passado.

Os resultados mostraram que "o número de genes alterados nas plantas cujas sementes foram alvo de irradiação é pelo menos duas vezes maior que no caso das plantas transgénicas", salientou Rita Baptista, acrescentando que este resultado manteve-se "mesmo quando as plantas analisadas são já descendentes de décimo grau da planta que foi modificada".

O objectivo principal da investigação era tentar perceber se fazia sentido fazer uma avaliação diferencial de segurança alimentar de alimentos obtidos por mutagénese em comparação com os transgénicos.

"E contrariamente à engenharia genética, em que se introduz um único gene para promover uma determinada característica, na mutagénese o objectivo é originar alterações na planta para depois escolher as que possuem melhores características. Essas são depois cruzadas e recruzadas até que entram no mercado".

Pouca segurança

A questão essencial passa exactamente pela entrada no mercado. Pois, apesar de se considerar que técnicas como a irradiação gama, ou agentes químicos podem ser arriscadas, estes "produtos, porque não são alterados em laboratório (ou seja sem o uso da engenharia genética), não são considerados Organismos Geneticamente Modificados (OGM)", frisou Rita Baptista.

Essas plantas, cerca de 1500 espécies, são assim "facilmente aceites no mercado sem qualquer controlo, ao contrário do que se passa com os OGM, para os quais existe legislação muito apertada", acrescentou a investigadora do INSA, que defende medida igual para todas.

O estudo foi recentemente publicado na revista científica dos EUA "Procedings of the Nacional Academy of Sciences".

segunda-feira, 10 de março de 2008

Biotecnologia: Anticorpo de VIH obtido a partir do milho pode servir para evitar transmissão

Um consórcio internacional de grupos de investigação obteve a partir do milho uma molécula que actua como anticorpo do vírus da sida e pode constituir um tratamento tópico de prevenção "eficaz e de baixo custo".

Os investigadores conseguiram gerar em sementes de milho grandes quantidades da molécula 2G12, considerada "um dos anticorpos mais promissores" do VIH (vírus da imunodeficiência humana), através de engenharia genética.

Este trabalho, divulgado no número desta semana da revista norte-americana PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences"), destaca "as valiosas propriedades farmacêuticas" daquela molécula microbicida e sugere a sua aplicação tópica vaginal como meio de evitar a transmissão do vírus da sida.

O estudo refere que o mesmo anticorpo do VIH pode também ser obtido em sementes de outras plantas.

Segundo o coordenador do consórcio, Paul Christou, do Departamento de Produção Vegetal e Ciência Florestal da Universidade de Lleida (Espanha), este método de produção da molécula abre caminho a um fármaco "muito mais barato" do que os fabricados até agora com elevados custos a partir de culturas de células de mamíferos.

Na sua perspectiva, esse fármaco poderá constituir no futuro uma "estratégia muito eficaz" de tratamento contra o VIH sobretudo em África, onde se estima existirem 22,5 milhões de infectados, depois da realização de ensaios clínicos.

"Os nossos dados mostram que a capacidade de neutralização do VIH do anticorpo é igual ou superior à do mesmo anticorpo produzido em células CHO (de hamster chinês)", lê-se no estudo. "Concluímos que este sistema de produção da proteína pode fornecer um meio de fabricar um ingrediente microbicida a custos que permitirão a introdução e a produção do produto no mundo em desenvolvimento".

Este trabalho, de carácter filantrópico, foi financiado pela União Europeia com 12 milhões de euros e contou com a participação de 39 grupos europeus de investigação. Entre os seus autores contam-se cientistas de Espanha, Alemanha, Áustria, Grécia e Reino Unido.

Gene de peixes ligado à leucemia humana

Conclusão é de um estudo de investigadores portugueses

Um gene que controla a proliferação celular nos primórdios do olho dos vertebrados poderá ter a mesma função nas células sanguíneas, o que sugere novas terapias para a leucemia humana, segundo um estudo de investigadores portugueses, escreve a Lusa.

O gene estudado neste trabalho, que utiliza como modelo o peixe-zebra, é o «meis1», o mesmo que em humanos parece estar envolvido em certos tipos de tumores, como as leucemias.

«Muitas leucemias são causadas pela manutenção inadequada desse gene», disse à agência Lusa Fernando Casares, investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), da Universidade do Porto, e coordenador da equipa responsável pelo estudo, que incluiu colegas em Espanha e na Noruega.

O peixe-zebra - um pequeno peixe de água doce de fácil manutenção, comum em aquários caseiros - foi escolhido como modelo para este trabalho devido à sua grande utilidade para os biólogos.

Além de ter o genoma totalmente sequenciado e haver instrumentos para a sua manipulação genética, o embrião e a larva são transparentes, permitindo examinar directamente ao microscópio o seu desenvolvimento.

Neste animal, os investigadores incidiram a sua atenção no olho e em particular na retina, que é uma parte especializada do sistema nervoso, mas tem uma organização mais simples do que o cérebro, por exemplo, explicou o investigador.

A formação das células do olho no peixe-zebra resulta da proliferação de células inicialmente indistintas que se vão diferenciando num processo controlado pelo gene meis1.

Quando é removido células proliferam menos

«Quando o meis1 é removido por meios genéticos, essas células do olho proliferam menos e o olho resultante fica muito reduzido», disse Fernando Casares, que faz também investigação no Centro Andaluz de Biologia do Desenvolvimento (CABD) da Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha.

Curiosamente, o meis1 intervém nas fases iniciais do desenvolvimento normal do sangue e, tal como acontece com o olho, a sua expressão é desligada para permitir que as percursoras das células do sangue se diferenciem.

Todavia, sublinhou o cientista, se o meis1 continuar «ligado», as células do sangue continuam a proliferar e tornam-se incapazes de desempenhar as suas funções normais.

Embora não exista ainda uma explicação clara da ligação do meis1 à leucemia, o estudo, embora realizado no olho, sugere que esse gene poderá controlar a proliferação dos percursores das células do sangue ao agir sobre duas proteínas que estimulam a divisão celular.

Sendo assim, conclui Fernando Casares, «esta função poderá ser alvo de novas terapias».

O estudo vem publicado na última edição da revista bimensal Development, especializada em biologia.


quarta-feira, 5 de março de 2008

Organismos Geneticamente Modificados

Organismos geneticamente modificados (OGM) são aqueles cujo material genético foi deliberadamente alterado pelo ser humano através de técnicas de biotecnologia.

A transformação do genoma de uma planta ou animal pode ser feita utilizando apenas material genético que a espécie já possui, através da alteração de determinados genes ou da realização de cópias de genes de modo a duplicar o seu efeito. Alternativamente, pode-se inserir no genoma de um ser vivo, um ou mais genes de espécies diferentes. Os OGM que foram produzidos por este segundo método são chamados de transgénicos e o seu objectivo é conferir determinadas propriedades a um ser vivo que este anteriormente não possuía e que estão presentes noutra espécie.

Neste momento já se produzem OGM muito diversos, incluindo animais (dos ratos aos peixes), plantas, fungos, bactérias e outros microrganismos. As razões para a sua produção são igualmente variadas, desde uma aplicação puramente científica, uma vez que as técnicas da engenharia genética permitem responder a questões fundamentais sobre o funcionamento dos genes, à produção de produtos farmacêuticos. No entanto, neste momento a aplicação mais generalizada e polémica dos OGM é na agricultura.

A produção de OGM existe desde o início da década de 1980, mas só em 1992, na China, foi plantada comercialmente a primeira variante transgénica de uma planta, neste caso tabaco tolerante a um herbicida específico. A partir de meados da década de 1990, algumas culturas transgénicas, em especial o milho e a soja, começaram a proliferar, e ficou claro que não tardaria muito tempo para que uma generalização destas culturas estivesse em curso, bem como o alargamento da aplicação da engenharia genética a outras espécies. Desde então foi gerada uma enorme polémica em torno dos perigos e das potenciais vantagens da utilização de OGM.


Vantagens e desvantagens das culturas agrícolas geneticamente modificadas

O incremento das culturas geneticamente modificadas tem provocado uma acesa polémica envolvendo cientistas, agricultores, ambientalistas, políticos, grupos económicos e os próprios consumidores. Para além das questões económicas, sociais, ambientais e de saúde, a produção de transgénicos levanta também questões de ética, sendo muito sensível a discussão sobre o direito que a espécie humana tem (ou não) de criar seres vivos desta forma, alterando o seu ADN de uma forma que nunca aconteceria por um processo natural.

É um tema em que não nos podemos sequer refugiar na suposta verdade ou neutralidade científica, uma vez que a própria comunidade científica está muito dividida, Por um lado os biotecnólogos defendem em bloco o uso de transgénicos, por outro lado os ecólogos alertam para os perigos desta técnica e aconselham prudência.

Os defensores dos OGM advogam que a produtividade da agricultura pode ser aumentada pela maior facilidade na eliminação de ervas daninhas e insectos prejudiciais, pela eliminação do risco de que os herbicidas danifiquem as próprias culturas como por vezes acontece com na agricultura convencional. Além disso, alguns dados apontam para que o uso de pesticidas seja inferior na agricultura com transgénicos do que na agricultura convencional, o que poderia gerar impactos negativos mais reduzidos. No entanto, muitas entidades questionam o rigor destes dados, uma vez que já que as plantas são resistentes aos herbicidas, pode-se usar e abusar destes.


Um dos principais argumentos usados a favor dos OGM é de que pode passar a ser possível implementar culturas agrícolas onde antes era impossível devido a condições ambientais adversas (clima, solos pobres, falta de água), sobretudo nos países mais pobres. Isto, teoricamente, poderia ajudar a resolver, localmente, alguns problemas de fome e sub-nutrição das populações. Outro argumento é o de se poder criar variantes dos produtos agrícolas com suplementos nutricionais, como é o caso do arroz dourado, uma variante à qual foram adicionados genes responsáveis pela produção de vitamina A. Assim, esperar-se-ia suprir carências nutricionais de algumas populações asiáticas cuja base da alimentação é o arroz, evitando-se problemas de saúde, como a cegueira causada por hipovitaminose. No entanto, existe o argumento de que existem recursos suficientes no planeta para que a população possa ser alimentada sem recurso a transgénicos, estes têm é que ser bem distribuídos.

Além disso, existem várias preocupações relativamente às culturas de OGM, relacionadas com a saúde humana, com o equilíbrio dos ecossistemas e com problemas sócio-económicos.

Efeitos dos OGM na saúde

Alergias
Pelo menos algumas variedades de OGM são responsáveis pelo aparecimento de alergias, através do seu consumo, causadas pela presença de genes capazes de produzir proteínas alergénicas. A produção de uma variedade de soja que continha uma proteína da castanha brasileira foi suspensa devido a este problema.

Resistência a antibióticos
A engenharia genética utiliza genes que conferem imunidade a certos antibióticos como marcadores para identificação das células modificadas. Isto causa alguma preocupação, já que existe a possibilidade de que esta resistência possa passar para bactérias dentro do corpo humano, tornando mais difícil o controlo de doenças. É quase consensual que estes marcadores devem ser abandonados e substituídos por outros.

Outros efeitos
O uso de produtos geneticamente modificados na alimentação humana é ainda muito recente, existindo, obviamente, muitas lacunas no conhecimento. Assim, não é de excluir a possibilidade de que possam aparecer outros efeitos nefastos associados ao consumo de transgénicos. Deve portanto ser exercida alguma prudência nesta matéria até os estudos científicos serem mais conclusivos.

Principiais culturas agrícolas geneticamente modificadas

As principais culturas com OGM são a soja, o milho, o algodão e a colza. Outras culturas transgénicas são o tabaco, a chicória, a alfalfa, o trigo, o arroz, o melão, a papaia, a abóbora, o tomate, o girassol, a beterraba, as lentilhas e flores como o cravo.


domingo, 2 de março de 2008

Peixes fluorescentes geneticamente modificados funcionam como indicadores biológicos

Peixes geneticamente modificados podem ser úteis na identificação de poluentes da água, ao mostrar uma dada cor na presença de um poluente específico.

Cientistas de Singapura estão a usar tecnologia genética para desenvolver peixes fluorescentes, que poderão ser usados para detectar a poluição das águas. Pensa-se conseguir criar em laboratório peixes geneticamente modificados de 5 cores diferentes. O objectivo é conseguir peixes indicadores que tomem uma certa cor na presença de um dado poluente.

Os cientistas inseriram genes para proteínas verdes e vermelhas fluorescentes, em peixes-zebra, que normalmente são pretos e brancos, e pela presença na água de químicos específicos, nomeadamente metais pesados, estes genes são activados, fazendo-os exibir a coloração verde e vermelha.

Reflexão:

Neste caso, os peixes fluorescentes geneticamente modificados são uma mais valia para os cientistas identificarem poluentes da água.


Fonte: http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=2663&iLingua=1