Pelo menos 216 substâncias químicas com as quais convivemos diariamente em produtos de limpeza ou cosméticos, na poluição do ar e até na alimentação fast food estão na origem do cancro da mama, demonstram centenas de estudos feitos em animais.
Este é um dos veredictos do estudo mais abrangente de sempre sobre esta questão, que demonstra também "a necessidade de fazer pesquisas sobre substâncias que nunca foram testadas, de desenvolver métodos de investigação mais sensíveis e de estender os estudos a idades a mais precoces", como afirmou ao DN Ruthann Rudel, investigadora do Silent Spring Institute e co-autora desta pesquisa.
Publicado este mês na revista científica americana Cancer, o estudo fez a revisão detalhada de mais de 900 artigos científicos nesta área, constantes em cinco bases de dados norte-americanas e internacionais, e reúne assim pela primeira vez toda a informação científica disponível sobre as potenciais substâncias químicas causadoras de cancro da mama.
Com esse levantamento exaustivo, a equipa produziu uma base de dados sobre as substâncias carcinógenas (especificamente para o cancro da mama), na qual constam todos os artigos científicos e a sua revisão pela equipa, que pode ser consultada aqui: www.silentspring.org/sciencereview.
Bases de dados de acesso livre
O objectivo deste banco de dados de acesso livre é duplo, explicam os autores do trabalho. Por um lado, a ideia é dar à comunidade científica uma base de trabalho para novas pesquisas. Por outro, sublinham no artigo, na Cancer, "é possível a partir daqui restringir a exposição a estas substâncias que causam cancro da mama em animais", já que, notam ainda, "os dados de estudos animais são uma indicação importante para a saúde humana", recomendando precaução.
Neste levantamento, a equipa identificou ainda quatro grupos de substâncias que, de acordo com estudos científicos publicados, são potenciais causadoras de cancro da mama nas mulheres.
Das 216 substâncias químicas agora identificadas como causando cancro da mama em animais, 73 estão presentes na alimentação como aditivos ou como contaminantes, 35 são poluentes atmosféricos, 25 estão associados a exposição laboral, em indústrias de plásticos ou tintas, entre outras, e 29 foram identificadas como sendo produzidos em grandes quantidades nos países industrializados, como os Estados Unidos da América.
Uma pesquisa complexa
Não foi por acaso, sublinham os autores do trabalho, que o cancro da mama se tornou nas últimas décadas o mais frequente nas mulheres dos países industrializados.
Este tumor maligno tem aliás uma taxa de incidência cinco vezes superior nestes países, em comparação com os outros.
Por outro lado, alerta ainda a equipa, "há cerca de 80 mil substâncias químicas, mas apenas um milhar foi testada" para os seus potenciais efeitos, em termos de cancro da mama. É necessário, dizem, estender a pesquisa a outras substâncias.
Obter provas directas dos efeitos cancerígenos das substâncias químicas, no cancro da mama em particular, não é fácil, no entanto, e exige um trabalho mais exaustivo do que o que tem sido feito até agora.
Como explicou ao DN Ruthann Rudel, uma das autoras do estudo, "é preciso estudar um grupo grande e bem definido de pessoas, com um alto nível de exposição, que tenha sido muito bem documentado durante vários anos".
É que, adiantou, "a maioria das substâncias químicas identificadas como carcinógenas para os seres humanos foram-no no contexto de estudos ocupacionais, mas não forneceram dados sobre o cancro da mama, uma vez que a sua maioria foi feita em homens", explicou .
O trabalho agora publicado na revista Cancer foi financiado pela Susan Komen for The Cure (instituição dos EUA para a prevenção e cura desta doença) e realizado por cientistas do Silent Spring Institute, das universidades de Harvard e de Southern Califórnia e ainda do Roswell Park Cancer Institute, nos EUA.
Fonte: http://dn.sapo.pt/2007/05/21/sociedade/ha_produtos_diaadia_causam_cancro.html
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